A Maria não se aguentou e contou à Miquelina: - Viram o teu marido a entrar num motel. A Miquelina abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. - Quando? Onde? Com quem? - Ontem. No Discretissimu's. - Com quem? Com quem? - Isso eu não sei. - Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna? - Não sei, Miquelina. - O Carlos Alberto va pagá-las. Ah, vai, vai! Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Miquelina anunciou que iria deixá-lo. E contou porquê. - Mas que história é essa, Miquelina? Tu sabes quem era a mulher que estava comigo no motel. Eras tu. - Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir ao Discretissimu's! Toda a cidade ficou a saber. Ainda bem que não me identificaram. - E então? - Então tenho que te deixar. Não vês? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir. - Mas tu não foste enganada. Tu é que estavas comigo! - Mas elas não sabem disso! - Eu não acredito, Miquelina. Tu vais acabar com o nosso casamento por isso? Por uma convenção? - Vou. Mais tarde, quando a Miquelina estava a sair de casa, com as malas, o Carlos Alberto interceptou-a. Estava sombrio. - Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico. - O que é que ele queria? - Fez mil rodeios, mas acabou por me contar. Disse que, como meu amigo, tinha que me contar. - O quê? - Tu foste vista a sair do motel Discretissimu's ontem, com um homem. - O homem eras tu. - Eu sei, mas eu não fui identificado. - E não disseste que eras tu? - O quê? Para os meus amigos ficarem a saber que eu vou com a minha própria mulher ao motel? - E então? - Desculpe, Miquelina, mas... - O quê? - Vou ter que te dar um tiro... |